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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


As eleições gregas de 25 de Janeiro

Entrevista de Giorgos Marinos [*]

'. UZ: Os desenvolvimentos recentes na Grécia levaram às eleições parlamentares de 25 de Janeiro. Como actuará o KKE nesta luta eleitoral? Será capaz de tratar com êxito a esperada polarização em torno do alegado cenário "a favor" ou "contra" a UE?

Giorgos Marinos: A polarização mencionada na pergunta (quanto à UE) não acontecerá pois ambos os partidos a competirem sobre quem formará o próximo governo (ND e SYRIZA) estão comprometidos com a UE. Na verdade, o presidente do SYRIZA, A. Tsipras, declarou de forma não ambígua:   "Pertencemos ao ocidente, à UE e à NATO. Não discutimos isto". Assim, a polarização será entre, por um lado o temor cultivado pela ND de que se a actual linha política anti-povo não for continuada será o desastre. Do outro lado está a exploração da indignação do povo e a gestão de ilusões, promovida pelo SYRIZA, o qual apesar da sua alta percentagem eleitoral não contribui para o desenvolvimento das lutas da classe trabalhadora.

O Partido, com lutas importantes e trabalho de propaganda de massa, está a demonstrar aos trabalhadores que seja qual a fórmula de gestão burguesa seguida dentro da estrutura da UE, da NATO e do caminho do desenvolvimento capitalista, isto não servirá os interesses dos trabalhadores e de outros estratos populares. A solução é fortalecer o KKE por toda a parte, no parlamento, a fim de fortalecer a luta do povo e abrir o caminho para mudanças radicais.


UZ: Os media na Alemanha falam de modo alarmista acerca de um colapso da Grécia se a "esquerda radical", isto é o SYRIZA, vencer as eleições. A UE já está a intervir na luta eleitoral. Que expectativa tem acerca da linha política expectável de Alexis Tsipras?

Giorgos Marinos: Eles podem falar de modo alarmista na Alemanha, tal como o faz na Grécia o partido governante ND, contudo outras secções do capital exprimem-se de modo diferente a apoiam abertamente um possível governo SYRIZA.

Naturalmente, ambos os partidos (ND e SYRIZA) têm diferenças que exprimem as diferenças existentes dentro dos países da Eurozona e entre secções dos grupos monopolistas, da burguesia e dos homens de negócio. A visão que neste momento prevalece na Comissão, na UE, na Alemanha fala de uma linha política restritiva, a continuação das medidas de austeridade de modo a que cada país possa emergir da crise e assim a Eurozona como um todo não deslize para a crise. Por outro lado, há a visão que fala acerca de uma linha política mais expansiva. Em todo o caso, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, fala em relaxamento orçamental a fim de aumentar a liquidez para proporcionar dinheiro a alguns homens de negócio para investimentos. Eles afirmam, tal como faz o SYRIZA, que a economia "respirará" deste modo. Mas este dinheiro não irá para o povo mas sim para as várias secções da plutocracia, os monopólios.

Assim, quando o SYRIZA está a competir com a ND sobre quem melhor reforçará a lucratividade do capital, a "competitividade" da economia, o reembolso da dívida, não pode haver a expectativa de que uma linha política favorável ao povo venha a ser implementada por um governo SYRIZA. O SYRIZA foi transformado num partido social-democrata. A vida tem demonstrado que governos "de esquerda", tanto na Grécia como na Europa, se tornam "pontes" para mais políticas "de direita".

UZ: Qual o caminho quanto à dívida e à UE que o KKE propõe para o país?

Giorgos Marinos: O KKE tem demonstrado que o povo não pode ser culpabilizado pela dívida, mas que o capital e seus governos sim. Em suma, o acesso do país à CEE-UE, o qual destruiu sectores tradicionais da economia, é responsável, bem como o caminho capitalista de desenvolvimento como um todo, pois o estado contraiu empréstimos a fim de servir os lucros do capital e está agora a reclamar os rendimentos dos trabalhadores. Nós conclamamos o povo a não reconhecer a dívida.

Além disso, notamos que o plano da ND para o "alongamento" do reembolso da dívida, o qual agora também é aceite pelos quadros do SYRIZA, bem como o objectivo oficial do SYRIZA e do FMI quanto a um "haircut" da dívida de modo a que possa se tornar "viável" não liberta o povo do seu insuportável fardo financeiro, não leva a uma recuperação das perdas que o rendimento do povo experimentou desde o estalar da crise capitalista, nem tão pouco coloca um travão à continuação das medidas anti-povo.

O que o povo deve fazer é criar pré-condições na sociedade para abrir o caminho para um cancelamento unilateral da dívida, para o desligamento da Grécia da UE e da NATO, para a criação de uma economia que opere com base nas necessidades populares e não para a lucratividade do capital. Isto exige poder dos trabalhadores e do povo. O reagrupamento do movimento trabalhista-popular é uma pré-condição para isto, assim como a formação da aliança da classe trabalhadora com os outros estratos populares, algo que pode acontecer através do fortalecimento decisivo do KKE.

UZ: O KKE rejeita a participação no Partido de Esquerda Europeu (PEE). Quais são as razões que o levam a esta posição? Não haverá razões a favor de uma tal cooperação?

Giorgos Marinos: O KKE alcançou o seu 96º ano de actividade incessante. Desde a sua fundação, nosso partido tem sido e permanece um partido internacionalista. As Reuniões Internacionais de Partidos Comunistas e Operários começaram há 16 anos atrás em Atenas por sua iniciativa. Ele responde activamente a convites internacionais de outros partidos, toma iniciativas para coordenar actividade a um nível global e regional. Assim, nossas diferenças com o PEE não estão relacionadas à questão de que se deveria haver uma tentativa de coordenação de actividade, mas sim em que direcção esta coordenação deveria ser.

Especificamente, o KKE considera que deve fortalecer a actividade conjunta contra guerras e intervenções imperialistas, contra o caminho de desenvolvimento capitalista, contra medidas anti-trabalhadores e anti-povo, contra as uniões imperialistas da UE e da NATO, contra toda união imperialista. Nosso objectivo deve ser criar uma estratégia revolucionária moderna a um nível internacional.

Não é possível que isto aconteça através do PEE, o qual foi estabelecido na base de decisões da própria UE. Todos os assim chamados "Partido Europeus" (incluindo o PEE) nos seus documentos aceitam e apoiam obrigatoriamente o "edifício" imperialista da UE e dele recebem apoio multifacético.

O KKE dá prioridade a uma nova forma de cooperação e concentração de forças de partidos comunistas e operários a um nível europeu, na base de princípios acordados em comum. São 29 partidos que hoje participam na INICIATIVA de partidos comunistas e operários a fim de estudar e elaborar questões europeias e coordenar sua actividade. Estes são partidos que não são membros ou membros plenos do PEE e baseiam-se nos princípios do socialismo científico, unidos pela visão de uma sociedade sem a exploração do homem pelo homem, sem pobreza, injustiça social e guerras imperialistas. Ao mesmo tempo temos um compromisso claro de lutar contra a UE. A UE é a opção do capital e promove medidas favoráveis aos monopólios, e fortalece suas características como um bloco económico, político e militar imperialista contra os interesses da classe trabalhadora, dos estratos populares. Ela aumenta seus armamentos militares, intensifica o autoritarismo e a repressão estatal. Acreditamos no direito de todos os povos escolherem seu próprio caminho soberano de desenvolvimento, incluindo o direito de se desligarem das dependências multi-nível da UE e da NATO, bem como direito de escolherem o socialismo.

Na nossa opinião, cada PC europeu que pretender se manter fiel à sua missão histórica, como partido da classe trabalhadora, da perspectiva socialista, será forçado pelos próprios desenvolvimentos a tomar o seu lugar na nossa frente comum contra os monopólios, o capitalismo e suas uniões, como a UE e a NATO. Do contrário, ele deslizará, aberta ou encobertamente, para um vão esforço pela "humanização" da UE e do capitalismo. Perderá assim a sua identidade comunista. E consequentemente dará a resposta errada aos dilemas históricos "Socialismo ou Barbárie?" e "Reforma ou Revolução", colocados pela revolucionária alemã Rosa Luxemburgo nos seus escritos. Ele se encontrará do lado que está contra os interesses da classe trabalhadora e do povo, o que é a hoje a posição do PEE, entre outros.

UZ: Desejamos todo o êxito nas eleições e nas lutas que trará 2015!

[*] Membro da CP do CC do KKE. Entrevista ao jornal UZ do PC Alemão.

O original encontra-se em inter.kke.gr/...

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .