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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


"A proposta do KKE é a única realista e a favor do povo"
Escrito por por Dimitris Koutsoumbas [*] entrevistado por Tassos Pappas   

P.: O senhor diz que quer com o dracma ou com o euro e com o Memorando, o povo sofrerá sob as presentes condições. Será possível que esta linha [de argumentação] desmobilize os cidadãos uma vez que a perspectiva que o senhor apresenta não parece ter relevância contemporânea?

R: O senhor está totalmente enganado. A proposta política do KKE é e permanece contemporânea. As outras propostas – aquelas do actual e dos antigos governos – apontam para uma "Terra do Nunca" quanto a uma saída da crise favorável ao povo. Trata-se de propostas que satisfazem apenas o grande capital e seus sectores. As propostas dos outros partidos referem-se ou a novos acordos do tipo Memorando ou simplesmente a uma mudança de divisa através do Grexit. As propostas adoptadas por diferentes razões pelo actual governo e outros partidos e aquelas defendidas pela Aurora Dourada e várias formações extra-parlamentares, são matematicamente calibradas para levar o povo à bancarrota total. A proposta do KKE, inversamente, é a única realista e autenticamente favorável ao povo, uma vez que ela liga o desligamento da Eurozona e da UE a um plano e programas abrangentes para a economia e a sociedade, incluindo a socialização dos meios de produção, a planificação central, a abolição da dívida, com o povo organizado e determinado, no quadro de um autêntico poder popular dos trabalhadores. O povo pode avançar nesta direcção activamente, utilizando a experiência do que o KKE dizia e continua a dizer, em linguagem clara.


P: Obviamente o senhor está a observar os desenvolvimentos dentro do SYRIZA. Poderia o KKE, sob certas pré-condições, começar discussões com um sector do SYRIZA, quero dizer aquele sector que argumenta por um retorno à divisa nacional e uma organização diferente da sociedade grega?

R: Se o senhor refere-se a quadros importantes do SYRIZA, que arcam com pesadas responsabilidades pela situação a que chegamos, quadros que apoiaram a estratégia política do SYRIZA, que venderam e continuam a vender falsas esperanças e ilusões, impedindo a radicalização do movimento, quadros e grupos que estão a vender o caminho capitalista para o dracma e a integração numa diferente aliança imperialista como solução alegadamente pró povo, e na verdade defendem um caminho que leva à ruína das relações sociais e da prosperidade popular através de "rupturas" como aquelas a que assistimos nos últimos seis meses, respondo inequivocamente que não existe tal perspectiva de um caminho comum. Naturalmente, as forças populares e dos trabalhadores que apoiaram o SYRIZA, bem como outros partidos, são uma questão diferente. A eles, o KKE está a dirigir um apelo à discussão e à adopção de um caminho comum. 

P: Estará o senhor receoso de que um partido à esquerda do SYRIZA, vindo de dentro do SYRIZA, venha a criar problemas para o KKE?

R: Os partidos estilo Lafazanis que o senhor tem em mente desempenham sempre o papel de baluartes contra o despertar popular e dos trabalhadores, contra a radicalização, contra a orientação anti-monopólios e anti-capitalista do movimento popular e suas alianças sociais. Em décadas anteriores, eles ficaram conhecidos como "KKE do interior", como EAR, como Synaspismos e como SYRIZA. Eles são aventureiros políticos, com políticas contraditórias e impossíveis, cuja única contribuição é fazer com que o povo e o país, bem como o movimento, desperdicem um tempo valioso. 

P: As vozes contra a hegemonia alemã estão a ficar mais fortes na Europa. O senhor acredita que isto avançará? Será possível a estratégia da austeridade, como expressa pela Alemanha e seus países satélites, ser derrotada?

R: A estratégia da austeridade é advogada pela Alemanha e seus satélites, como o senhor diz, mas também é advogada pela França, pela Itália, pelos "amigos" do Sr. Tsipras. Hollande avançou um turbilhão de medidas anti-povo em França e continua a assim fazer, ao passo que Lagarde do FMI, onde os EUA são dominantes, está a assumir um papel principal na demolição de quaisquer direitos e garantias [dos trabalhadores] que tenham sido deixados de pé. Na Grécia não podemos simplesmente falar acerca de Schauble deixando esquecidos Hollande, Renci, Cameron, Le Pen, Lew, todos os quais estão a pedir o avanço da carnificina económica contra o nosso povo, e contra outros povos. 

Ao longo de todos estes anos tem sido provado que a competição entre centros imperialistas, a luta da Alemanha contra os EUA, da Alemanha contra a França, etc, nada tem a ver com a protecção de direitos populares, mas sim com quem garantirá mais lucros para os seus próprios grupos corporativos, quem hegemonizará a Europa e o mundo. O debate acerca da "austeridade" está integrado neste contexto. 

P: Por que é que numa Europa em crise, onde os trabalhadores são cruelmente atacados pelas políticas dominantes, não temos forças fortes de questionamento do modelo capitalista? Por que é que o socialismo, como o senhor o concebe, é impopular? A consciência do povo ainda está sobrecarregada por 1989 e o fracasso do "socialismo realmente existente"?

R: Não há dúvida de que o ideal socialista-comunista sofreu uma derrota histórica mundial em 1989-1991, através da subversão da URSS e de outros países socialistas. Foi uma derrota e um retrocesso que ainda está a ser pago pelos povos, pelo trabalho internacional e pelo movimento comunista. E isso continua a ser um fardo sobre o despertar das massas e a emancipação social do povo e dos seus movimentos. 

Mas acreditamos que retrocessos históricos, erros, fraquezas, devem ser ensinamentos para todos nós. O movimento, a classe trabalhadora, o povo, deve ser capaz de extrair conclusões valiosas para o presente e o futuro. Este é o único caminho pelo qual serão capazes de construir uma nova sociedade, sem os erros do passado. E para reforçar a tendência rumo à radicalização, rumo ao questionamento abrangente do caminho capitalista, que agora está podre e que só pode dar origem a crises, guerras, pobreza e exploração. 

O KKE trabalha firmemente nesta direcção. E somos optimistas, apesar das grandes dificuldades que temos de enfrentar. 

P: Alguns inquéritos de opinião mostram que a posição do KKE "desviou" alguns dos seus eleitores para o apoio ao "Não" no referendo. Fizeram os senhores a opção errada?

R: Dado o facto de que o governo SYRIZA-ANEL se recusou até mesmo a submeter à votação no Parlamento a proposta do KKE para um Referendo com uma pergunta real, estava claro para nós que o nosso objectivo não era arrecadar votos mas sim lançar uma campanha de cinco dias para um Não à proposta do BCE-UE-FMI e um Não à proposta do governo, que conduzia a um novo Memorando. Isto foi provado muito rapidamente, uma vez que os 62% que votaram Não foram sequestrados pelo Sr. Tsipras e os outros partidos, excepto o KKE, e convertidos num grande Sim ao novo Memorando. 

O apelo do CC do KKE já está a ter reflexos no povo, entre aqueles que votaram Não com a ideia de que isto significava uma ruptura com o Memorando, com a UE, com os monopólios e o seu poder, entre aqueles que lançaram na urna um voto inválido, ou um voto em branco ou se abstiveram de votar, desafiando realmente o caminho seguido de um modo radical, rejeitando as enganações do governo, e mesmo com aqueles que votaram Sim, capitulando à grande chantagem tipo dilema. A todos eles o KKE estende a sua mão em favor de uma luta comum.

 

08/Agosto/2015
[*] Secretário-geral do KKE 
[**] do "Newspaper of the Editors" (Efimerida ton Syntakton) 

O original encontra-se em www.902.gr/... e a versão em inglês emindefenseofgreekworkers.blogspot.pt/....

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

Última atualização em Qui, 13 de Agosto de 2015 16:19