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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


De Gaulle, sabotado por Roosevelt e Churchill, admitiu fixar-se em Moscovo de acordo com Stalin

Alberto Lopes

A entrevista com Pierre Pranchère que transcrevemos do semanário "Alentejo Popular", é um documento de significado internacional.
Nela, Pranchère, herói da Resistência, revela que Roosevelt se opunha ao regresso do general de Gaulle a França, o que levou o general a estabelecer contacto com Stalin, admitindo a possibilidade de se fixar na União Soviética.
Pranchére, comentando a Batalha da Normandia, desmonta mitos difundidos pela propaganda estadounidense e esclarece que o general Omar Bradley chegou a ordenar a retirada para Inglaterra das tropas americanas desembarcadas.

Ex-membro do Comité Central do Partido Comunista Francês, foi deputado à Assembleia Nacional de França e ao Parlamento Europeu durante quase duas décadas. De origem camponesa, filho de um ferroviário, aos 16 anos já lutava na Resistência francesa à ocupação alemã, durante a II Guerra Mundial. Pierre Pranchère, hoje com 82 anos, visitou recentemente Portugal pela segunda vez e veio de novo ao Alentejo ? já aqui tinha estado no Verão de 1975, apaixonado pela Revolução dos Cravos. Falou agora ao «Alentejo Popular» da sua participação no «maquis» na região da Corrèze, de episódios menos conhecidos da II Guerra Mundial, da sua experiência como deputado, do fracasso da União Europeia e da luta dos comunistas franceses.

Não se pergunta aos amigos por que é que nos vêm ver, mas qual o objectivo desta visita a Portugal?

Esta viagem, com a minha mulher e a nossa filha, teve dois eixos de interesse: primeiro, visitar o país, aprofundar o conhecimento da história deste povo, orgulhoso enquanto nação e que reivindica com muita força a a sua história; e, depois, como comunista, rever Portugal, porque estive aqui em Julho de 1975, no auge da Revolução dos Cravos. Com o 25 de Abril, o 1.º de Maio de 1974, os cravos nas espingardas dos soldados, quis então vir perceber melhor a situação em Portugal. Eu era na época deputado na Assembleia Nacional de França e nós, comunistas franceses, tínhamos toda a simpatia pelo Partido Comunista Português e pelo movimento dos capitães, que foi o «pivot» central desse formidável avanço para a democracia. Nessa altura tive contactos com militantes do PCP e quis ver de perto a Reforma Agrária, que esteve também no centro do movimento de Abril, englobando militares, operários agrícolas, camponeses sem terra e intelectuais. Tive a oportunidade, nesse Verão de 75, de assistir a um comício em Évora com Álvaro Cunhal. Eis, pois, por que razão quis voltar agora a Portugal ? continuo a ter a Revolução dos Cravos no coração...

E quais foram as impressões da visita?

No momento em que a nossa viagem chega ao fim, estou particularmente encantado. Há semelhanças entre a história do povo de Portugal e a história do povo de França ? o apego à Nação, o apego aos valores republicanos, aos valores revolucionários, aos valores da paz e da amizade, que surgem agora com mais força. Quero saudar, muito sinceramente, a luta que levam a cabo os trabalhadores, o povo português, e igualmente a luta do Partido Comunista Português, que se bate com muita tenacidade contra a liquidação das conquistas da Revolução dos Cravos. Nós, franceses, conhecemos bem essa realidade, já que temos um governo de uma enorme ferocidade contra os trabalhadores. Encontramo-nos hoje confrontados não só em França mas em toda a União Europeia com um ressurgir do fascismo, com uma presença insolente dos herdeiros de Hitler e de Mussolini. Assistimos a propostas escandalosas, por exemplo em Itália com o governo de Berlusconi, onde há simpatizantes fascistas, e no quadro da União Europeia, assistimos a uma campanha de reabilitação do fascismo e de criminalização do comunismo. Nós, em França, em particular o Pôle de la Renaissance Communiste, promovemos uma campanha muito grande para demonstrar que o comunismo e o nazismo são absolutamente opostos, que não é possível qualquer comparação, que não é possível fazer uma amálgama. Por exemplo, os comunistas portugueses lutaram contra a mais longa ditadura fascista na Europa, a de Salazar, e dezenas de milhares de comunistas franceses derramaram o seu sangue no combate pela liberdade e para vencer o fascismo. Assim, nestes dias em Portugal, ouvimos, perguntámos, tentámos compreender melhor os problemas e vemos o futuro com muita confiança. Os comunistas que querem permanecer comunistas, que são revolucionários, devem trabalhar para reconstituir o movimento comunista internacional de modo a que, face à barbárie do imperialismo, sejamos portadores de uma verdadeira alternativa. O socialismo ou a barbárie ? é também a nossa palavra de ordem.

«CUMPRI O MEU DEVER

DE PATRIOTA, DE COMUNISTA»

Voltaremos a abordar a actualidade, mas quero agora colocar-lhe algumas questões sobre acontecimentos históricos em que participou, em França, durante a II Guerra Mundial. A sua região, a Corrèze, desempenhou um papel muito importante na Resistência à ocupação alemã... Com que idade é que entrou na luta dos «maquisards»?

Na Corrèze há uma longa história de luta pela liberdade. Nessa região, por exemplo no período da Comuna de Paris [1871], houve ali posições revolucionárias. Os camponeses são proprietários da terra, têm pequenas explorações agrícolas e havia ali muita simpatia revolucionária que se ampliou quando eles foram trabalhar para os estaleiros de construção de caminhos-de-ferro, para as grandes cidades, como Paris, regressando depois à província. Na Corrèze houve sempre uma grande representação desta força e no período da Frente Popular houve um enorme reforço do Partido Comunista. Contrariamente à Espanha, com a Frente Popular não estivemos no governo mas logo após a vitória eleitoral houve uma greve geral dos trabalhadores, apoiada pelo campesinato, greve que alcançou conquistas como férias pagas, 40 horas, aumentos de salários. O que foi decisivo depois ? porque a Frente Popular não resistiu muito tempo à fragilidade dos radicais e do Partido Socialista ? foi a constituição nas fábricas de poderosas organizações comunistas e sindicais. E a Corrèze, em seguida, conheceu um período de repressão: em 1939 a imprensa comunista foi proibida, militantes foram presos, o PCF foi ilegalizado. Conhecemos uma situação extraordinária, porque os que nos acusavam de sermos traidores à pátria foram os que assinaram os Acordos de Munique liquidando a Checoslováquia, recusaram a fazer a «entente» com a URSS em relação à Polónia, sacrificaram-na deliberadamente porque sabiam que sem o apoio da União Soviética a Polónia seria esmagada... Os que nos acusavam tornaram-se a seguir, no essencial, naqueles que traíram a República, traíram a França...

Foi então organizada a Resistência contra os alemães...

Sim, surgiu na Corrèze a resistência, que se apoiava no Partido Comunista. Havia, é certo, homens e mulheres que seguiam o general De Gaulle, mas foi uma batalha, no fundamental, desde o início, travada pelos comunistas. O meu pai era da Resistência e eu aos 15 anos aderi ao Partido Comunista clandestino, aos 16 estava com o pessoal das ligações e do reabastecimento, num grupo do maquis gaulista que veio implantar-se na nossa aldeia (sou de origem camponesa, embora o meu pai fosse ferroviário). O contexto era tal que a mobilização na Corrèze foi considerável, atingindo proporções dificilmente imagináveis: tivemos como franc-tireurs et partisants (FTP), que foram criados pelo Partido Comunista, cerca de 11 mil combatentes ? em 240 mil habitantes! Havia lá uma força extraordinária, homens e mulheres que estavam na Resistência, de tal ordem que, por exemplo, no período de 1943/44, os alemães estacionados na Corrèze, que não era unidades de elite ? estavam nessa altura praticamente todas na frente russa ?, diziam da Corrèze que era a «Pequena Rússia»...

Foram tempos difíceis mas, ao mesmo tempo, para os maquisards, heróicos...

Em 1940 havia a pena de morte por actividades comunistas mas os responsáveis do Partido Comunista tornaram-se os comandantes, os oficiais, os que treinaram esse formidável exército popular. Houve a insurreição e na Corrèze a palavra de ordem de insurreição nacional ? que aliás não era só dos comunistas, porque havia também as forças gaulistas ? traduziu-se numa directiva de liquidar os destacamentos militares alemães. Era uma palavra de ordem ambiciosa mas que correspondia à guerrilha na Corrèze ? as unidades de franco-atiradores fustigavam sem cessar os alemães, que dificilmente conseguiam movimentar-se no terreno. Em 44, os franc-tireurs atacaram o quartel alemão de Tulle e, depois de dois dias de combate difícil, mortífero, a guarnição alemã foi no essencial aniquilada, tendo os sobreviventes sido também liquidados. É preciso dizer que neste combate os franco-atiradores foram admiráveis e que os alemães tiveram perdas consideráveis, foram obrigados a render-se.

E os nazis retaliaram?

No contexto do Maciço Central, o estado-maior alemão não dispunha de forças necessárias para manter o controlo da situação. Este ataque ao aquartelamento de Tulle fez mudar a correlação de forças em favor da Resistência e os alemães foram forçados a recorrer a uma divisão SS (a 2.ª Divisão Das Reich, que tinha sido derrotada na batalha de Kursk) e a despachá-la para o departamento da Corrèze. Essa divisão SS, de grande ferocidade, não tentou combater os franc-tireurs, porque não estava apta para a luta de guerrilha, e atirou-se à população civil, enforcando 99 pessoas em Tulle, deportando centenas de trabalhadores, martirizando um sem número de jovens. Chegou-se ao auge do horror, porque não escaparam nem as crianças, nem os bebés, nem as mulheres ? foi um massacre pavoroso de mais de 600 pessoas.

Que memória guarda desses momentos históricos?

É uma parte indissociável da minha vida. No que me diz respeito, entrei na Resistência sabendo bem o que ia encontrar ? o meu pai era também comunista e resistente. Participei em acções de sabotagem, em acções ofensivas, cumpri o meu dever de patriota, de comunista.

DE GAULLE AMEAÇOU DEIXAR LONDRES

E IR PARA MOSCOVO

Ainda sobre II Guerra Mundial, há opiniões contraditórias de historiadores sobre as relações entre o general De Gaulle e Roosevelt e Churchill. É verdade que, para a França do pós-guerra, Roosevelt preferia um governo com ex-ministros de Petain em vez do general de Gaulle?

Sim, sim. Em Junho de 1940, depois do ataque da Alemanha nazi, De Gaulle ? um representante da burguesia francesa mas um democrata ? partiu para Londres, de acordo com Churchill. O Partido Comunista lançou um apelo a 10 de Julho de 1940, no dia em que Petain assassinou a República com as baionetas alemãs. Esse apelo do PCF dizia que nunca um grande povo como o nosso seria um povo de escravos, e perspectivava, com base na política de unidade no partido, quais seriam as etapas seguintes. Mais tarde, quando os dirigentes norte-americano e inglês, Roosevelt e Churchill, tentaram afastar De Gaulle ? que lhes parecia não estar a jogar o jogo deles ?, houve uma aproximação entre De Gaulle e o Partido Comunista. Essa aproximação foi decisiva para a Resistência. Fez-se no momento do desembarque americano e inglês na África do Norte, em Novembro de 1942, quando Roosevelt e Churchill afastaram De Gaulle e a França combatente, que não foi autorizada a participar na acção, e preferiram aliar-se aos generais franceses que continuavam a depender do general Petain, do regime de Vichy. Nesse período, De Gaulle teve um apoio capital da posição adoptada pela URSS, porque a União Soviética tinha beneficiado da solidariedade do general De Gaulle desde o ataque alemão: a União Soviética reconheceu a França combatente e negociou com De Gaulle a possibilidade de cooperação. De Gaulle propôs que uma esquadrilha francesa combatesse na frente russa, como os aviadores franceses combatiam na Royal Air Force britânica, e em Novembro de 1942, contornando a batalha de Stalinegrad, pilotos franceses chegaram a uma base próxima de Moscovo e iniciaram a formação dessa esquadrilha. Ao mesmo tempo, um encontro entre emissários do general De Gaulle e a direcção do Partido Comunista alcançava um acordo. Mais tarde, em 10 de Fevereiro de 1943, De Gaulle escrevia uma notável carta ao comité central do Partido Comunista ? foi o único partido ao qual ele se dirigiu desta forma ?, em que reconheceu a importância do Partido Comunista na Resistência, na formação dos franco-atiradores, e em que fez referência à vitória de Stalinegrad, afirmando que «eu sei que a França combatente pode contar com o Partido Comunista Francês». Este entendimento entre gaulistas e comunistas foi a espinha dorsal do acordo que se conseguiu mais tarde, em Maio, no Conselho Nacional da Resistência, depois de Jean Moulin ter unificado a Resistência. Isto foi decisivo, pois Roosevelt e Churchill tinham já fixado a data em que iam afastar De Gaulle. Foram então obrigados a aceitar a ida de De Gaulle a Argel, mas os arquivos mostram que até 1944 continuaram a procurar afastar De Gaulle e que em Julho/Agosto houve uma última tentativa de reunir em Paris o antigo parlamento ? com os deputados que votaram por Petain em Vichy! ?, para designar um governo para a França libertada...

Sabe-se hoje que De Gaulle esteve para mudar-se de Londres para Moscovo...

O filho do general De Gaulle, o almirante Phillipe De Gaulle, publicou as suas memórias, «De Gaulle Meu Pai», e ali conta coisas extraordinárias. Diz que quando De Gaulle percebeu a animosidade de Roosevelt e Churchill, pediu ao embaixador da União Soviética em Londres que informasse Stalin de que, se os norte-americanos e ingleses concretizassem as suas intenções, ele pediria para se instalar na União Soviética! Isto faz parte da nossa História e hoje os governantes franceses, como o Sr. Sarkozy, querem fazer esquecer esse compromisso histórico realizado entre gaulistas e comunistas. E querem apagá-lo porque a sua política vai contra tudo o que fez a grandeza de França, porque depois da libertação houve um governo com ministros comunistas, entre eles Maurice Thorez, que realizaram as maiores transformações ao serviço dos trabalhadores e da nação.

Ainda sobre a II Guerra: Hollywood apresenta os norte-americanos como os grandes vencedores da batalha da Normandia. Qual foi o papel da Resistência nessa fase da guerra?

Quando o desembarque da Normandia estava em preparação, havia uma crescente exigência popular nesse sentido, já que os americanos e os ingleses não avançavam, estavam atolados na campanha de Itália. E os factos apoiavam essa exigência: em Stalinegrad o destino da guerra mudou. Stalinegrad foi a vitória da inteligência, a vitória da União Soviética que conseguiu produzir nessa altura armamento de uma qualidade extraordinária, como os carros de assalto T-34 e os «Katioushka». Stalinegrad marcou o ponto de viragem da guerra. Aliás, De Gaulle foi à União Soviética em Dezembro de 1944 e deslocou-se a Stalinegrad, onde afirmou: «Que grande povo!». Mais tarde, em 1966, considerou «decisivo» o papel da Rússia ? ele não falava da União Soviética... ? na derrota da Alemanha nazi. Depois da batalha de Moscovo, da batalha de Kursk, o Exército Vermelho retomou a iniciativa estratégica e só parou em Berlim em finais de Abril de 1945. E quando Hitler se suicidou, os soldados soviéticos estavam a 80 metros do seu «bunker» ? ele não teve outra solução para não cair prisioneiro do Exército Vermelho.

Voltando ao desembarque anglo-americano da Normandia...

Os americanos e ingleses prepararam o desembarque, segundo os historiadores e especialistas militares, com a ideia de enganar os nazis, fazendo-lhes crer que o desembarque seria noutra zona, em Dunquerque. Por isso não bombardearam a costa da Normandia para destruir as fortificações ali existentes. A batalha foi terrível, porque as tropas alemãs estavam entrincheiradas, armadas com canhões e metralhadoras, e dizimaram regimentos ingleses e americanos inteiros. A certa altura, o general Bradley,o comandante americano, achou que era necessário retirar, face às elevadas perdas das forças atacantes... O que se seguiu mostrou se não tivesse havido a intervenção da Resistência francesa teria sido possível o contra-ataque alemão ? Rommel estava de licença em Berlim mas regressou rapidamente ao terreno. As forças anglo-americanas lançaram nessa altura, de pára-quedas, armas para resistência, na Bretanha e na Normandia ? até essa altura, estávamos mal armados e passámos a ter então espingardas, metralhadoras, bazucas, armas para combater. Mais tarde, altos comandos militares americanos reconheceram que sem as acções de sabotagem da Resistência, na retaguarda das tropas alemãs, o êxito do desembarque estaria comprometido. A Resistência foi um elemento muito importante, se não decisivo, da libertação tão rápida da França.

«A UNIÃO EUROPEIA

INIMIGO MORTAL DOS POVOS EUROPEUS»

Finda a II Guerra, foi deputado à Assembleia Nacional de França em 1956-58 e 1973-78 e ao Parlamento Europeu, entre 1979 e 1989. Que recordações tem dessa fase da sua vida política?

Fui eleito deputado muito jovem, com 29 anos, em 1956, e a minha candidatura foi apresentada pelo Partido Comunista na Corrèze, pelos seus militantes, operários, camponeses, pelos antigos combatentes da Resistência. A guerra colonial tinha prosseguido depois do afastamento dos comunistas do governo, pelos socialistas, radicais e democratas-cristãos. Tivemos um grande êxito eleitoral, elegemos mais de 150 deputados comunistas e na Corrèze tínhamos dois em quatro deputados. (Aliás, tínhamos dois deputados desde 1945: na Corrèze, o Partido Comunista obteve, depois da libertação, 40 por cento dos votos, era uma força considerável).

Houve depois a guerra colonial (Indochina, Argélia), o golpe de força dos generais em Argel, a emergência da V República, foi um período extremamente difícil para o nosso povo, o general De Gaulle chegou ao poder, já não como durante a Resistência mas com o apoio da extrema-direita e da direita. Mais tarde, quando voltei à Assembleia Nacional, houve um entendimento entre o Partido Comunista e o Partido Socialista com base num programa comum, aliás elaborado pelo PCF e discutido com as bases. Hoje, o meu julgamento sobre essa aliança, contrariamente à da Frente Popular ? quando houve uma unidade das bases e não um acordo de cúpula ? é muito crítico. Miterrand, cinicamente, abandonou a orientação que tinha sido acordada... Foi também um período complicado, de luta e combate.

Já no Parlamento Europeu, as coisas foram muito claras desde o início e até ao final dos 10 anos que ali passei: era a Europa do grande capital, a Europa das multinacionais, a Europa onde o combate dos povos devia ter uma força que não existe para travar um período de contra-revolução. De contra-revolução que prossegue hoje. Esta Europa do grande capital pode conduzir a Europa e o Mundo a um período de aventura, período que começou com a liquidação dos países socialistas. Estamos numa fase de atomização dos estados, das nações, há uma tentativa de reduzir os estados ? vejam-se o Montenegro, o Kosovo, etc. ?, de colocar os povos em inferioridade face aos países imperialistas como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha. E há a participação da União Europeia nas guerras do Iraque e do Afeganistão. O Afeganistão é um verdadeiro barril de pólvora, e não só local, porque é uma ameaça contra o Irão, a China, a Rússia ? é essa a verdadeira razão de o imperialismo querer ter o Afeganistão à sua mercê. Por tudo isto, a União Europeia é hoje o inimigo mortal dos povos da Europa. E nós, no Pôle de la Renaissance Communiste, defendemos a saída da França da União Europeia, para não dar cobertura a estas políticas inaceitáveis. Pode e deve-se fazer a ruptura. Uma ruptura que não significa ruptura de relações económicas e outras, mas que permita a reconquista da independência e da soberania e a negociação de vantagens recíprocas entre os povos.

Esta entrevista foi publicada no Alentejo Popular nº 323 de 17 de Dezembro de 2009

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Última atualização em Qua, 30 de Dezembro de 2009 01:17