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Home Sobre Prestes Sobre Dª Leocádia Veja carta inédita de Leocádia Prestes


"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


Veja carta inédita de Leocádia Prestes
Escrito por Dº Leocádia Prestes   

APRESENTAÇÃO

Carta inédita de Leocadia Felizardo Prestes, enviada aos juízes do Supremo Tribunal Militar em protesto contra a condenação imposta ao seu filho pelo espúrio Tribunal de Segurança Nacional, um tribunal de exceção criado pelo Governo Vargas para julgar os chamados “crimes contra a segurança nacional”. O texto é revelador da coragem e da determinação,
assim como do caráter indomável da progenitora de Luiz Carlos Prestes.





CARTA DE LEOCADIA PRESTES AO SUPREMO TRIBUNAL MILITAR

Exmos. Srs. Juízes do Supremo Tribunal Militar.

Respeitosas saudações.

Como mãe e como brasileira, não posso conformar-me de modo algum com a sentença do Tribunal de Segurança Nacional que condenou meu filho, Luiz Carlos Prestes, à pena máxima pedida pelo Sr. Procurador: 16 anos e 8 meses de prisão.

Não posso conformar-me porque meu filho não pôde explicar a verdade, porque sua palavra não foi ouvida, porque não houve um debate público, porque não houve a mínima formalidade jurídica, a mais vaga sombra de defesa, porque o acusado nem mesmo compareceu ao tribunal!

MEU FILHO NÃO FOI JULGADO, FOI SIMPLESMENTE CONDENADO!

As duas cartas que dirigi ao Tribunal de Segurança Nacional, a 24 e 30 de abril, não foram juntas aos autos nem lidas na sessão do julgamento. As medidas estabelecidas pelo Sr. Presidente do mesmo tribunal, impediram que o advogado do meu filho comparecesse à sessão do julgamento. Além disso, esta sessão se prolongou durante a noite, como se se tramasse algo que não pode ser feito à luz do dia, e a sentença foi lavrada depois da meia noite, às ocultas do povo.

Srs. juízes, tudo isto é profundamente estranho e produz no estrangeiro a mais penosa impressão. As atitudes do Tribunal de Segurança Nacional não podem elevar a nossa Pátria perante o mundo civilizado como a pátria da Justiça e da Liberdade!

[Ilegível]... como mãe e como brasileira, venho à presença de V.V. Excias. para reivindiar a V.V. Excias.:

1)      UM TRATAMENTO HUMANO PARA MEU FILHO: a liberdade de corresponder-se livremente com sua família, sobretudo com sua mãe e sua mulher, presa na Alemanha, com a filhinha de poucos meses, sem culpa nem processo de espécie alguma; a liberdade de receber a visita de seus parentes e amigos; a liberdade de receber livros e jornais, roupa e alimentos; a liberdade de dar um pequeno passeio durante uma ou duas horas por dia, a fim de tomar um pouco de sol e respirar um ar menos impuro; a liberdade de dispor livremente da quantia que lhe pertence, quantia depositada na Tesouraria da Polícia; a sua transferência para uma casa de saúde dado o seu estado de predisposição para a tuberculose.

2)      UMA DEFESA TOTALMENTE LIVRE.

3)      DEBATES PÚBLICOS.

4)      UM JULGAMENTO VERDADEIRAMENTE JUSTO E O MAIS BREVE POSSÍVEL PELO TRIBUNAL MILITAR

Peço a V.V. Excias. que se interessem junto ao governo do Brasil e ao governo da Alemanha para que minha nora, Olga Prestes (deportada do Brasil nos últimos meses de gestação) e minha neta, Anita Leocadia (brasileira, com 6 meses de idade, nascida numa prisão), presas sem crime algum na Alemanha, SEJAM LIBERTAS E VENHAM PARA A MINHA COMPANHIA.

Peço finalmente, a V.V. Excias. que esta carta, bem como as duas que enviei ao Tribunal de Segurança Nacional a 24 e a 30 de abril, sejam lidas na primeira sessão do Supremo Tribunal Militar.

Com o mais alto respeito e consideração

a)      LEOCADIA PRESTES

Paris, 14 de maio de 1937.

 

CARTA DE LEOCADIA PRESTES AO SUPREMO TRIBUNAL MILITAR

Exmos. Srs. Juízes do Supremo Tribunal Militar.

Respeitosas saudações.

Como mãe e como brasileira, não posso conformar-me de modo algum com a sentença do Tribunal de Segurança Nacional que condenou meu filho, Luiz Carlos Prestes, à pena máxima pedida pelo Sr. Procurador: 16 anos e 8 meses de prisão.

Não posso conformar-me porque meu filho não pôde explicar a verdade, porque sua palavra não foi ouvida, porque não houve um debate público, porque não houve a mínima formalidade jurídica, a mais vaga sombra de defesa, porque o acusado nem mesmo compareceu ao tribunal!

MEU FILHO NÃO FOI JULGADO, FOI SIMPLESMENTE CONDENADO!

As duas cartas que dirigi ao Tribunal de Segurança Nacional, a 24 e 30 de abril, não foram juntas aos autos nem lidas na sessão do julgamento. As medidas estabelecidas pelo Sr. Presidente do mesmo tribunal, impediram que o advogado do meu filho comparecesse à sessão do julgamento. Além disso, esta sessão se prolongou durante a noite, como se se tramasse algo que não pode ser feito à luz do dia, e a sentença foi lavrada depois da meia noite, às ocultas do povo.

Srs. juízes, tudo isto é profundamente estranho e produz no estrangeiro a mais penosa impressão. As atitudes do Tribunal de Segurança Nacional não podem elevar a nossa Pátria perante o mundo civilizado como a pátria da Justiça e da Liberdade!

[Ilegível]... como mãe e como brasileira, venho à presença de V.V. Excias. para reivindiar a V.V. Excias.:

1)      UM TRATAMENTO HUMANO PARA MEU FILHO: a liberdade de corresponder-se livremente com sua família, sobretudo com sua mãe e sua mulher, presa na Alemanha, com a filhinha de poucos meses, sem culpa nem processo de espécie alguma; a liberdade de receber a visita de seus parentes e amigos; a liberdade de receber livros e jornais, roupa e alimentos; a liberdade de dar um pequeno passeio durante uma ou duas horas por dia, a fim de tomar um pouco de sol e respirar um ar menos impuro; a liberdade de dispor livremente da quantia que lhe pertence, quantia depositada na Tesouraria da Polícia; a sua transferência para uma casa de saúde dado o seu estado de predisposição para a tuberculose.

2)      UMA DEFESA TOTALMENTE LIVRE.

3)      DEBATES PÚBLICOS.

4)      UM JULGAMENTO VERDADEIRAMENTE JUSTO E O MAIS BREVE POSSÍVEL PELO TRIBUNAL MILITAR

Peço a V.V. Excias. que se interessem junto ao governo do Brasil e ao governo da Alemanha para que minha nora, Olga Prestes (deportada do Brasil nos últimos meses de gestação) e minha neta, Anita Leocadia (brasileira, com 6 meses de idade, nascida numa prisão), presas sem crime algum na Alemanha, SEJAM LIBERTAS E VENHAM PARA A MINHA COMPANHIA.

Peço finalmente, a V.V. Excias. que esta carta, bem como as duas que enviei ao Tribunal de Segurança Nacional a 24 e a 30 de abril, sejam lidas na primeira sessão do Supremo Tribunal Militar.

Com o mais alto respeito e consideração

a)      LEOCADIA PRESTES

Paris, 14 de maio de 1937.

Última atualização em Dom, 02 de Setembro de 2012 02:52