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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


OS PERIGOS DA GUERRA. O QUE É QUE HÉ POR DETRÁS DO CONFLITO ENTRE ESTADOS UNIDOS E COREIA DO NORTE?

por Jack A. Smith

O que é que está ocorrendo entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte que gera esta semana títulos como “Aumenta a tensão na Coreia” e “Coreia do Norte ameaça os Estados Unidos”?

The New York Times informava em 30 de Março:
“O jovem dirigente de Coreia do Norte, Kim Jung-un, ordenou esta semana aos seus subordinados que se preparassem para um ataque com mísseis contra os Estados Unidos. Apresentou-se num posto de comando frente a um mapa pendurado na parede com o atrevido e improvável título de “Planos para atacar o território dos Estados Unidos”. Uns dias antes os seus generais tinham-se gabado de ter desenvolvido uma ogiva nuclear “estilo coreano” que podia ser transportada num míssil de longo alcance”.

Os Estados Unidos sabe bem que as declarações da Coreia do Norte não estão apoiadas num poder militar suficiente para implementar as suas ameaças retóricas, mas a tensão parece de qualquer modo estar aumentando. ¿O que está ocorrendo? Tenho de retroceder um pouco no tempo para explicar a situação.

Desde o final da Guerra da Coreia, há 60 anos, o governo da República Popular Democrática da Coreia do Norte (RPDCN ou Coreia do Norte) tem repetidas vezes apresentado praticamente as mesmas quatro propostas aos Estados Unidos. Estas são:
1. Um tratado de paz para pôr fim à Guerra da Coreia.
2. A reunificação da Coreia, “temporariamente” dividida em Norte e Sul desde 1945.
3. O fim da ocupação estado-unidense da Coreia do Sul e a suspensão das manobras de combate anuais de um mês de duração entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul.
4. Negociações bilaterais entre Washington e Pyongyang para acabar com as tensões na Península da Coreia.

Os Estados Unidos e o seu protectorado sul-coreano têm rechaçado ao longo dos anos cada uma destas propostas. Em consequência disso a península tem sido extremadamente instável desde a década de 1950. Agora chegou-se a um ponto em que Washington utilizou as suas manobras de guerra anuais, que começaram em princípios de Março, para organizar um simulacro de ataque nuclear contra a Coreia do Norte sobrevoando a região no dia 28 de Março com dois bombardeiros B-2 Stealth dotados de capacidade nuclear. Três dias depois a Casa Branca enviou para a Coreia do Sul aviões de combate não detectáveis F-22 Raptor, com o que a tensão aumentou ainda mais.

Vejamos que há por detrás destas quatro propostas:
1. Os Estados Unidos negam-se a assinar um tratado de paz para pôr fim à Guerra da Coreia. Acederam apenas a um armistício, que é uma suspensão temporal do combate por consentimento mutuo. Supunha-se que o armistício assinado em 27 de Julho de 1953 se ia transformar num tratado de paz quando “fosse alcançado um acordo pacífico final”. A falta de um tratado significa que a guerra pode ser reatada a qualquer momento. A Coreia do Norte não quer uma guerra com os Estados Unidos, o Estado com maior poder militar da historia. Quer um tratado de paz.

2. As duas Coreias existem em consequência de um acordo entre a União Soviética (que faz fronteira com a Coreia e durante a Segunda Guerra Mundial ajudou a libertar do Japão a parte norte do país) e os Estados Unidos, que ocuparam a metade sul. Embora o socialismo prevalecesse no norte e o capitalismo no sul, a divisão não ia ser permanente. As duas grandes potências iam retirar-se ao cabo de um par de anos e permitir que o país se reunificasse. A Rússia fê-lo; os Estados Unidos, não. Chegou então em 1950 a devastadora guerra de três anos. Desde essa data a Coreia do Norte tem apresentado varias propostas diferentes para acabar com a separação que dura desde 1945. Creio que a más recente é “um país, dois sistemas”. Isso significa que ainda que se unam ambas as partes, o sul continua sendo capitalista e o norte socialista. Será difícil, mas não impossível. Washington não o quer. Trata de alcançar toda a península para levar o seu guarda-chuva militar directamente até à fronteira com a China e também com a Rússia.

3. Desde o final da guerra Washington tem mantido entre 25.000 e mais de 40.000 soldados na Coreia do Sul. Juntamente com as esquadras, bases de bombardeiros nucleares e instalações de tropas estado-unidenses muito próximas da península, estes soldados continuam a constituir um relembrar de duas cosas. Uma é que “podemos esmagar o norte” e a outra é “a Coreia do Sul pertence-nos”. Pyongyang encara-o desta forma (e muito mais ainda desde que o presidente Obama decidiu “pivotar” na direcção da Asia). Embora esta viragem contenha aspectos económicos e comerciais, o seu principal propósito é aumentar o já considerável poder militar na região para intensificar a sua ameaça em relação à China e à Coreia do Norte.

4. A Guerra da Coreia foi basicamente um conflito entre a República Popular Democrática da Coreia do Norte e os Estados Unidos. Quer isto dizer que, ainda que vários países das Nações Unidas tenham participado na guerra, os Estados Unidos assumiram-na para si, dominaram a luta contra a Coreia do Norte e foram responsáveis pela morte de milhões de coreanos a norte da linha divisória do paralelo 38. É completamente lógico que Pyongyang procure negociar directamente com Washington para resolver os diferendos e alcançar um acordo pacífico que conduza a um tratado. Os Estados Unidos têm-se negado sistematicamente a esse objectivo.
Estos quatro pontos não são novos. Foram colocados na década de 1950. Na década de 1970 visitei em três ocasiões a República Popular Democrática do Coreia do Norte, num total de oito semanas, como jornalista do periódico estado-unidense The Guardian. Uma e outra vez, nas discussões com altos responsáveis, perguntavam-me pelo tratado de paz, pela retirada das tropas estado-unidenses do Sul e negociações directas. Hoje a situação é a mesma. Os Estados Unidos não vão ceder um milímetro.

Por que não? Washington quer livrar-se do regime comunista antes de permitir que a paz prevaleça na península. ¡Nada de “um Estado dois sistemas”, c’os diabos! Querem um Estado que prometa lealdade, ¿adivinham a quem?

Entretanto, a existência de uma “belicosa” Coreia do Norte justifica que Washington cerque o norte com um autêntico anel de potencia de fogo no noroeste do Pacífico suficientemente próximo para quase queimar a China, ainda que não totalmente. Uma “perigosa” República Popular Democrática da Coreia do Norte também é útil para manter o Japão dentro da órbita estado-unidense e é também outra justificação para que o antes pacífico Japão se gabe agora do seu já formidável arsenal.

Relativamente a isto vou a citar um artigo de Christine Hong y Hyun Le publicado a 15 de Fevereiro em Foreign Policy in Focus:
“Qualificar a Coreia do Norte como a principal ameaça para a segurança da região oculta a natureza falsa da política do presidente estado-unidense Barack Obama na região, em concreto a identidade entre o que os seus assessores denominam “paciência estratégica” por um lado e, por outro, a postura militar e a aliança com os falcões regionais que vem concretizando. É fundamental examinar a agressiva política de Obama relativamente à Coreia do Norte e as suas consequências para entender porque é que as demonstrações de poderio militar (da política por outros meios, nas palavras de Carl von Clausewitz) são as únicas vias de comunicação com os Estados Unidos que a Coreia do Norte parece ter nesta conjuntura”.

Tenho aqui uma outra citação de Brian Becker, dirigente da coligação ANSWER:
“O Pentágono e o exército da Coreia do Sul nos dias de hoje (e ao longo do ano passado) têm vindo a organizar massivas manobras de guerra que simulam a invasão e bombardeamento da Coreia do Norte. Poucas pessoas nos Estados Unidos conhecem qual é a verdadeira situação. O trabalho da máquina de propaganda de guerra está delineado de forma a garantir que o povo estado-unidense não se una para exigir que acabem as perigosas e ameaçadoras acções do Pentágono na Península da Coreia.

A campanha de propaganda está agora em pleno desenvolvimento enquanto o Pentágono sobe a escalada da intensificação numa das zonas mais militarizadas do planeta. A Coreia do Norte é considerada o provocador e o agressor de cada vez que afirma que tem direito a defender o seu país e capacidade para o fazer. Inclusivamente quando o Pentágono simula a destruição nuclear de um país que já bombardeou até “reduzi-lo à Idade da Pedra”, os meios de comunicação propriedade das corporações caracterizam este acto extremadamente provocatório como um sinal de determinação e uma medida de defesa própria”.

E uma outra citação de Stratfor, o serviço de inteligência privado que costuma estar bem informado:
“Grande parte do comportamento da Coreia de Norte pode considerar-se retórico embora, entretanto, não esteja claro até onde quer chegar Pyongyang se continuar sem poder forçar negociações por meio da beligerância ”.

Aqui dá-se por adquirido o objectivo de iniciar negociações.
A “belicosidade” de Pyongyang é quase completamente verbal (talvez vários decibéis demasiado alta para nossos ouvidos), mas a Coreia do Norte é um país pequeno numas difíceis circunstâncias que bem recordam a extraordinária brutalidade que Washington infligiu ao território na década de 1950. Morreram milhões de coreanos. Os bombardeamentos de saturação estado-unidenses foram criminosos. A Coreia do Norte está decidida a morrer lutando se isto voltar a suceder, mas espera que a sua preparação [militar] impeça a guerra e conduza a negociações e a um tratado.

O seu grande e bem treinado exército é defensivo. O objectivo dos foguetões que está a construir e de falar de armas nucleares é fundamentalmente assustar o lobo que tem à porta de casa. A curto prazo, a recente retórica inflamada de Kim Jong-un é a resposta directa ao simulacro de guerra de um mês de duração deste ano dos Estados Unidos e Coreia do Sul, que interpreta como um possível prelúdio de outra guerra. A longo prazo o objectivo de Kim é criar uma crise suficientemente inquietante para que os Estados Unidos acedam finalmente a umas negociações bilaterais, e possivelmente a um tratado de paz e à saída das tropas estrangeiras. Mais adiante poderia chegar alguma forma de reunificação, em negociações entre o norte e o sul.

Suspeito que a actual confrontação se acalmará uma vez que terminem as manobras de guerra. O governo Obama não tem a intenção de criar as condiciones que levem a um tratado de paz, especialmente agora que a atenção da Casa Branca parece concentrada no Leste da Asia, de onde se indicia um possível perigo para a sua supremacia geopolítica.

Jack A. Smith é director de Activist Newsletter.

Fonte: http://www.globalresearch.ca/the-dangers-of-war-what-is-behind-the-us-north-korea-conflict/5329307

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Última atualização em Dom, 28 de Abril de 2013 15:18