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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


Na Alemanha, lançado livro-áudio sobre Olga Benario Prestes

 

Foi lançado na Alemanha o  livro-áudio sobre Olga Benario Prestes, em Compact Disc (CD), "Die Unbeugsame - Olga Benario in ihren Briefen und in den Akten der Gestapo". O livro-áudio, em alemão, encontra-se disponível para venda diretamente no site do Projeto Olga Benario ou no bandcamp.com.
O livro-áudio está baseado em dois livros de Robert Cohen, pesquisador alemão do tema. O primeiro livro é Olga Benario, Luiz Carlos Prestes: Die Unbeugsamen - Briefwechsel aus Gefängnis und KZ (Göttingen, Wallstein, 2013), uma coletânea da correspondência entre os dois revolucionários comunistas, Olga Benario Prestes e Luiz Carlos Prestes, enquanto ela era prisioneira na Alemanha nazista e ele encontrava-se preso no Brasil. As cartas atestam o grande amor existente entre eles. Conforme foi apontado por Robert Cohen (estudioso literário) na introdução do livro, embora a convivência entre eles tenha durado pouco mais de um ano, “a importância de uma relação não se mede por sua duração. Se quisermos saber alguma coisa sobre o amor entre duas pessoas, não devemos indagar o que as pessoas fazem do amor, mas sim o que o amor faz das pessoas. O que o amor fez de Olga Benario e Carlos Prestes descobrimos em suas cartas."
O segundo livro é Der Vorgang Benario: Die Gestapo-Akte 1936 – 1942 (Berlim, Berolina, 2016), que traz material da coleção do chamado "Processo Benario", que faz parte dos chamados "documentos-troféus" (Trophäen-dokumente) nazistas, documentação apreendida pelos soviéticos após a derrota da Alemanha nazista em 1945.  O "Processo Benario" é composto de uma pasta, oito dossiês e cerca de 2 mil folhas dedicadas apenas a uma pessoa: Olga Benario Prestes. O acervo produzido pela Gestapo (a polícia secreta do Terceiro Reich alemão) é uma coleção impressionante, que inclui relatórios, depoimentos, fotografias e cartas enviadas e recebidas para Olga, desde sua saída do Brasil, em 1936,  durante seu cárcere no campo de concentração de Ravensbrück, até sua morte na câmara de gás do campo de concentração de Bernburg, em 1942. Segundo Robert Cohen, “O chamado 'Processo Benario' da Gestapo é talvez a coleção mais abrangente de documentos sobre uma única vítima do Holocausto.” Nas palavras dele:
Esses documentos formam - dialética incontornável - uma abrangente autoapresentação dos crimonosos e das ideologias, coações, mecanismos, organismos e estruturas que dirigiam. À medida que cuidam do arquivo do "Processo Benario", dia após dia, os criminosos fazem o que não podem querer fazer: eles dão informações sobre si mesmos. (Robert Cohen, Der Vorgang Benario: Die Gestapo-Akte 1936 – 1942, p. 8)
O livro-áudio, portanto, apresenta-se como uma montagem de cartas entre Olga e Prestes e documentos da Gestapo que fornece uma visão incomparável do embate entre o mundo da vítima e o mundo do agressor. Assim, o livro-áudio (Compact Disc - CD) é composto da seguinte maneira:
Ute Kaiser lê as cartas de Olga Benario, conceito e direção.
Gabriela Börschmann lê os arquivos da Gestapo.
Martin Molitor lê as cartas de Luiz Carlos Prestes.
Ute Kaiser | Gabriela Börschmann | Martin Molitor

No site do Projeto Olga Benario (http://www.olgabenario.de) está uma amostra de áudio de quase 10 minutos .

O livro-áudio traz um suplemento, um livreto de 40 páginas, com texto de Robert Cohen.
Para o público brasileiro, que não tem o domínio do alemão, como eu, a apreciação das informações valiosas e inéditas encontradas no chamado "Processo Benario" pode se dar através do livro Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo (Boitempo, 2017), escrito pela historiadora Anita Leocadia Prestes. O acervo vasculhado pela autora, como afirma Fernando Morais no texto de orelha do livro, "revela minúcias do monitoramento a que Olga era submetida pelas autoridades em todas as prisões e campos de concentração em que esteve entre 1936-1942, quando foi executada em uma câmara de gás." Morais prossegue chamando a atenção do leitor do livro de Anita para "a pétrea decisão de Olga de não transmitir a seus algozes nem sequer uma solitária informação a respeito de seu passado e de suas atividades políticas na União Soviética e no Brasil", ressaltando ele, "ainda que esse obstinado silêncio viesse a lhe custar, como ocorreu dezenas e dezenas de vezes, penosos castigos físicos e privações ainda mais duras que as do cotidiano de um campo de concentração nazista." Penas, frequentemente, atribuídas à Olga com a seguinte recomendação: "Ademais, solicito que lhe seja atribuída uma árdua carga de trabalho adicional".
Como encerra o texto da orelha do livro, Fernando Morais afirma: "Mais que uma obra de referência, Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos  da Gestapo é a pungente, dolorosa história de uma revolucionária exemplar."
O acervo histórico que deu origem ao livro-áudio e ao livro de Anita Prestes, os chamados "documentos-troféus" (Trophäen-dokumente) acumulados pela Gestapo, foi preservado pela União Soviética e aberto para consulta pública em 2015. Como afirma Roberto Cohen, no prefácio do livro Der Vorgang Benario: “Em 29 de abril de 2015, ocorreu uma abertura solene no Museu das Forças Armadas em Moscou […]. O motivo foi a publicação on-line de arquivos anteriormente inacessíveis do Reich Alemão, provenientes de arquivos russos [www.germandocsinrussia.org]".

 

Última atualização em Sex, 01 de Maio de 2020 13:44