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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


OBAMA DÁ SINAIS DE QUE HAVERÁ MAIS QUATRO ANOS DE MÁS RELAÇÕES COM A AMÉRICA LATINA

Mark Weisbrot
2013-01-02 10:43:00

Na sexta-feira passada, numa entrevista em Miami, o presidente Obama foi muito longe ao dirigir insultos gratuitos contra o presidente Hugo Chávez.

Fazendo-o, não só ofendeu a maioria dos venezuelanos, que votaram para reeleger o seu presidente em 7 de Outubro, como ofendeu inclusivamente muitos que não votaram nele. Chávez está a lutar pela vida, recuperando de uma complicada operação a um cancro. Na América Latina, como na maior parte do mundo, esta desnecessária difamação de Chávez por parte de Obama constitui uma violação não apenas do protocolo diplomático, mas também dos mais elementares padrões de cortesia.

Mas talvez seja ainda mais importante o facto de que estas inadequadas calúnias de Obama enviaram uma desagradável mensagem ao resto da região. Enquanto Obama pode safar-se com qualquer coisa que diga na maioria dos meios de comunicação, pode estar-se seguro de que os seus comentários foram registados pelos presidentes e ministérios de Relações Exteriores do Brasil, Argentina, Equador, Bolívia e outros. A mensagem foi clara: podemos esperar mais quatro anos com as mesmas políticas falidas - políticas de Guerra Fria - para a América Latina, as mesmas que o presidente George W. Bush defendeu e Obama prosseguiu no seu primeiro mandato.
Estes presidentes vêm Chávez como um amigo próximo e um aliado; alguém que os tem ajudado e ajudado a região. Como milhões de venezuelanos, estão rezando pela sua recuperação. Ao mesmo tempo, vêm Washington como responsável pelas más relações entre os Estados Unidos e a Venezuela (de mesma forma que com o hemisfério em geral), e estes infelizes comentários são uma confirmação adicional desse facto. Em 2012, durante a Cimeira de las Américas, Obama encontrou-se tão isolado como o esteve George W. Bush durante a notória Cimeira de 2005. E isso constituiu uma mudança radical em relação à Cimeira de 2009, onde todos, incluindo Chávez, saudaram calorosamente Obama e viram nele a possibilidade de uma nova era nas relações EUA-América Latina.

Para estes governos, as invectivas de Obama sobre as políticas autoritárias de Chávez e a repressão dos dissidentes cheiram mal; até pelo momento em que foram proferidas. A Venezuela acaba de ter eleições nas quais a oposição, que detém a maioria dos rendimentos e da riqueza do país, assim como o controlo da maioria dos meios de comunicação, mobilizou milhões de votantes. A participação eleitoral foi de 81 por cento dos votantes recenseados, com cerca de 97 por cento de registo dos votantes em idade de votar. O governo não reprimiu os dissidentes, tal como não tinha feito em outras eleições, e tal como não fez inclusivamente quando os dissidentes bloquearam a indústria do petróleo e paralisaram a economia em 2002-2003; acções que teriam sido consideradas ilegais e impedidas pelas forças do Estado nos Estados Unidos. Os manifestantes pacíficos na Venezuela são muito menos propensos a ser agredidos, atacados com gases lacrimogéneos ou alvo de disparos com balas de borracha pelas forças de segurança do que o são em Espanha, e provavelmente na maioria das outras democracias.

Sim, houve abusos de autoridade na Venezuela, como em todo o mundo, tal como o presidente Obama deve saber. Foi Obama quem defendeu a encarceramento sem julgamento por mais de dois anos e meio e os abusos cometidos sobre Bradley Manning durante a sua detenção; que foi condenado pelo Relator especial das Nações Unidas contra a tortura. É Obama quem se em recusado a conceder a liberdade ao activista da população indígena estado-unidense Leonard Peltier, amplamente conhecido no mundo como um prisioneiro político, agora numa prisão dos Estados Unidos por 37 anos. É Obama quem reclama o direito, e o tem exercido, de matar cidadãos estado-unidenses sem detenção nem julgamento.

Venezuela é um país de rendimento médio, onde o Estado de Direito é relativamente débil, como o é o Estado em geral (daí o absurdo de o apelidar de autoritário). No entanto, ao compará-lo com outros países de nível de rendimentos semelhante, não se destaca de forma alguma no âmbito dos abusos dos direitos humanos. Certamente, não existe nada na Venezuela comparável aos abusos perpetrados pelos aliados de Washington, tais como México ou Honduras – onde candidatos a cargos políticos, activistas da oposição e jornalistas são frequentemente assassinados. E grande parte dos estudos académicos elaborados acerca da Venezuela de Chávez mostram que esta é mais democrática e com mais liberdades civis do que em qualquer momento anterior da sua historia.

Pelo contrário, nós nos Estados Unidos não estamos a desempenhar-nos tão bem em comparação com a nossa própria história e o nosso nível de rendimento. Temos sofrido uma séria perda de liberdades civis sob as administrações de George W. Bush e do presidente Obama. E, naturalmente, se contamos as vítimas dos crimes dos EUA no estrangeiro – os civis e crianças assassinados por ataques com drones (aviões não tripulados) no Afeganistão e Paquistão, por exemplo – é o presidente Obama, aquele que possui uma “lista de pessoas a assassinar”, quem terá pouca margem para criticar a maioria dos presidentes de outros países.

"Quereríamos ver uma relação sólida entre os nossos dois países, mas não vamos mudar as políticas que têm como prioridade que haja liberdade na Venezuela", disse Obama, segundo a Associated Press.

Não consigo pensar em alguém acredite que a política dos Estados Unidos na Venezuela, desde o golpe militar de 2002 em que Washington esteve implicado, até ao prosseguimento hoje em dia do financiamento aos grupos venezuelanos da oposição, tenha algo que ver com a promoção da “liberdade”. Tratou-se apenas de mais um insulto público.

O governo venezuelano respondeu com severidade a estes comentários. Mas talvez tivessem sido mais indulgentes se tivessem conhecimento do pouco que sabe o presidente Obama – que nunca pôs os pés na América Latina antes de ser presidente – acerca da Venezuela ou da região.
Quando o presidente Obama se reuniu com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, disse:
“Isto dá-me a oportunidade de destacar o extraordinário progresso que o Brasil tem levado a cabo sob a liderança da presidente Rousseff e do seu predecessor, o presidente Lula, ao passar da ditadura para a democracia…”

Portanto, se Obama (e a sua equipa) nem sequer sabia que a ditadura brasileira chegou ao fim mais de uma década antes que Lula fosse eleito em 2002, ¿como pode esperar-se que ele saiba algo da Venezuela? Quer dizer, o Brasil é um país grande, maior que os Estados Unidos continentais, e a sexta maior economia do mundo.

Obama despediu o seu conselheiro de Segurança Nacional para a América Latina depois do descalabro na Cimeira de 2012. Deveria despedir o inepto que o alimentou com esses insultos que proferiu na entrevista em Miami, da mesma forma que ao incompetente que o fez passar uma vergonha em frente da presidente do Brasil. E poderia assim limpar o seu gabinete dos guerreiros da Guerra Fria dos anos 1950 que continuam no Departamento de Estado. Estão bem se não lhe interessa a América Latina – é melhor para a região e para o mundo - mas ele e a sua administração estão a criar um montão de hostilidade desnecessária.

Al Jazeera English, 18 de Dezembro, 2012 / http://www.cepr.net/


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