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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


Para uma melhor compreensão do problema sírio*

Está em curso uma gigantesca campanha de manipulação mediática em torno das operações de reconquista da cidade de Alepo pelo exército sírio. Entretanto, para quem queira ver o que está detrás da gritaria sobre “crimes de guerra”, “hecatombe” e o resto, a questão nada tem de “humanitária”. Do que se trata é, simplesmente, de preparar a opinião pública para uma intervenção ocidental em defesa dos fanáticos terroristas da Al-Nusra, agora transformados em “rebeldes moderados”.

O que está em causa em Alepo é uma parte da cidade, a zona Leste, não a cidade no seu todo, 1 milhão e duzentos mil habitantes na zona governada pelo regime sírio para cerca de 250 mil controlados pelos “rebeldes”. Essa parte é controlada por milícias em que a força dominante e predominante é a AL-NUSRA, agora autodesignada Fateh el Sham, pertencente à Al-Qaeda até há dias. A das Torres Gémeas! Designa-se Frente para a Reconquista da Síria… É o jihadismo mais fanático, cujo financiamento deve ter os seus canais assegurados pelos regimes feudais da Arábia e do Golfo (de que “ninguém” das agências ousa beliscar quanto a direitos humanos e não se ouve personalizar um “ditador” feudal sequer dos que por lá regem o poder; é o poder financeiro de alto calibre e portanto intocável!). Todos vemos que muitos dos jihadistas vieram de países da Europa e de outras paragens para derrubar o presidente sírio e implantar um “estado Islâmico” na Síria, talvez segundo o modelo saudita, quem sabe. Esses mesmos convertidos e fanáticos que atravessaram a Europa passaram pela Turquia e alinharam com os rebeldes autóctones no combate ao regime sírio. Alguém acredita que são pessoas que podem fazer na Síria uma democracia? E é legítima essa invasão de jihadistas para o “regime change” das potências ocidentais, que já gerou tantas desgraças e misérias no Iraque, na Líbia, no Afeganistão, etc. E à luz do direito internacional é legítima a interferência dos países ocidentais num país que não os agrediu? Os rebeldes são armados por quem? E combatem para quê? A guerra civil desencadeada serviu para algo mais do que para destruir e matar? Balanço? O governo sírio deveria poupar os “rebeldes” “moderados” de armas na mão e os terroristas de mãos nas armas? Para se deixar derrotar? Para o caos, a somalização? Vejam o programa “Going Underground” de 15 de Outubro, na Russian Television, pois pode-se ouvir o último embaixador britânico na Síria para se aperceber do que por lá vai. A guerra de fora, financiada, alimentada, promovida numa aliança tácita do fanatismo jihadista e do intervencionismo ocidental, é um desastre que desgraçou o povo sírio e transtornou a Europa. Para quê? Quanto aos rebeldes implantados em Alepo Leste pensem nesta ideia muito clara: Não serão eles que têm a população refém?

Não foi o representante da ONU para a Síria, S. Mistura, que disse que os mil “rebeldes” têm cativa a população na cidade; e que lhes assegurava a retirada de Alepo para deixarem em paz a população? Será que o governo sírio está impedido de ganhar a guerra por imposição da coligação ocidental/Arábia Saudita? Porquê? Para implantar um não-regime do tipo da Líbia? Ou um regime do tipo Qatar? Ou da Arábia Saudita? Diz-me com quem andas… Será possível que sejam recomendáveis rebeldes que estão aliados ou do mesmo lado contra o regime sírio com o DAESH e a AL-Qaeda? E, nesse caso, qual a consistência da apregoada luta contra o terrorismo pelas potências ocidentais? Sem perspectiva histórica, numa manipulação noticiosa casuística, a verdade é engolida e o leitor fica à nora, ou, pior, é enganado. Os rebeldes não se poderão render? Se são moderados, não deveriam libertar a população civil? Uma guerra não pode acabar? Ou esperam a intervenção da NATO para os fazer ganhar a contenda? A Síria é um país com um governo que está representado na ONU. É aceitável que se feche militarmente o espaço aéreo de um país soberano por diktat do Conselho de Segurança, como se fez na Líbia? E o brilhante resultado da intervenção da NATO nesse país não deve ser reflectido? O que pretendeu o representante da França no Conselho de Segurança? Rememorar o seu colonialismo argelino e a sua mortífera guerra colonial, ou o seu protectorado da Síria na época colonial? Os rebeldes entrincheirados em Alepo Leste não fazem de civis os seus escudos? Quantas vítimas inocentes na invasão do Iraque, na ocupação do Afeganistão, nos bombardeamentos da Líbia, nos ataques aéreos ao Iémen pela coligação saudita? Crimes de guerra? Pergunte aos “Médecins Sans Frontiéres” em Kandahar e no Iémen. As acusações ao exército sírio e às forças russas de “crimes de guerra” são pura propaganda no contexto que se sabe. Não foi a intervenção russa há pouco mais de um ano que tornou óbvia a prevalência do ISIS na luta contra Assad? Quem reconquistou Palmira e porque é que os órgãos ocidentais abafaram o significado dessa vitória contra o terrorismo? Num sentido humano geral a guerra é sempre crime. Do risco para a humanidade resultante do reacender da guerra fria, haja sangue frio para apurar quem atiça o fogo. Numa atitude imparcial, está à vista quem.

 

*Este texto foi publicado como Editorial do Novo Jornal, de Angola, em 21.10.2016
Fonte: odiario.info