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"Luiz Carlos Prestes entrou vivo
no Panteon da História.  
Os séculos cantarão a 'canção de gesta'
dos mil e quinhentos homens da
Coluna Prestes e sua marcha de quase
três anos através do Brasil.
Um Carlos Prestes nos é sagrado.
Ele pertence a toda a humanidade.
Quem o atinge, atinge-a."

(Romain Roland, 1936)


O discurso de Putin sobre o estado do mundo

Paul Craig Roberts 05.Mar.18     Outros autores

Os grandes media ocidentais, ocupados a lançar uma torrente de desinformação e propaganda de guerra sobre a Síria ou a Venezuela, silenciaram o recente discurso de Vladimir Putin em que este revelou que a Rússia dispõe já de armas nucleares que tornam inúteis os “escudos” que os EUA e a NATO vêm instalando em torno do seu país. Mas a questão é muito séria, em particular para os europeus, que seriam as primeiras vítimas da retaliação a uma agressão EUA/NATO.
Putin proferiu um notável discurso dirigido à Assembleia Federal, ao Povo Russo e aos povos do mundo (http://en.kremlin.ru/events/president/news/56957).

Nesse discurso Putin revelou a existência de novas armas nucleares russas que tornam incontestável o facto de a Rússia possuir uma vasta superioridade nuclear relativamente aos EUA e aos seus patéticos estados vassalos da NATO.

Tendo em conta as capacidades russas, deixou de ser claro que os EUA ainda possam situar-se na categoria dos superpoderes.

Tenho muito poucas dúvidas de que se os dementados neoconservadores e o complexo militar/securitário em Washington dispusessem destas armas, e o mesmo não acontecesse com a Rússia, Washington desencadearia um ataque contra a Rússia.

Putin, contudo, declarou que a Rússia não tem ambições territoriais nem ambições hegemónicas, e não tem intenção de atacar qualquer outro país. Putin descreveu essas armas como a resposta necessária à obstinada recusa ocidental, mantida ano após ano, em aceitar a paz e a cooperação com a Rússia e em vez de isso vir a cercá-la com bases militares e sistemas ABM.

Disse Putin: “Estamos interessados na interacção normal e construtiva com os Estados Unidos e a União Europeia e esperamos que o bom senso prevaleça e os nossos parceiros venham a fazer a escolha pela cooperação justa e igual. A nossa política nunca assentará em aspirações ao excepcionalismo, estamos a defender os nossos interesses e respeitamos os interesses de outros países.”

Putin disse a Washington que os seus esforços para isolar a Rússia por meio de sanções e de propaganda e de coarctar a capacidade russa de dar resposta ao crescente cerco por parte do Ocidente falhou. As novas armas russas tornaram toda a estratégia EUA/NATO “ineficaz do ponto de vista militar.” “As sanções visando constranger o desenvolvimento da Rússia, incluindo no plano militar…não tiveram resultado.” “Não foram capazes de deter a Rússia. Precisam de tomar isso em conta…Parem de instabilizar o barco a bordo do qual estamos todos.”

Portanto, o que é que há a fazer? Vai o Ocidente tomar juízo? Ou vai o Ocidente, afogado em dívida e enterrado até ao pescoço em sobredimensionadas e ineficazes indústrias militares, intensificar a Guerra Fria que Washington ressuscitou?

Não penso que o Ocidente tenha já juízo para tomar. Washington está totalmente absorvido pelo “excepcionalismo americano.” Todos estão afectados pela extrema presunção da “nação indispensável.” Os europeus são comprados e pagos por Washington. Creio que Putin depositava esperanças em que os líderes europeus viessem a compreender a futilidade de tentar intimidar a Rússia e cessassem de apoiar a russofobia de Washington, que está a conduzir à guerra nuclear. Sem dúvida que Putin ficou desapontado com a resposta idiota do ministro da defesa da Grã-Bretanha, Gavin Williamson, que acusou a Rússia de “escolher o caminho da escalada e da provocação.”

O que eu suponho é que os neoconservadores vão minimizar a capacidade russa, porque os neoconservadores não querem aceitar que existam constrangimentos para o unilateralismo de Washington. Por outro lado, o complexo militar/securitário irá exagerar a superioridade russa de modo a requerer um orçamento maior para “nos proteger da ameaça russa.”

Depois de anos de experiência frustrante face à recusa de Washington em tomar em consideração os interesses russos e trabalhar em conjunto de forma cooperativa, os russos concluíram que a razão para tal comportamento era a convicção de Washington de que o poder dos EUA tinha capacidade para obrigar a Rússia a aceitar a liderança dos EUA. O enérgico anúncio de Putin acerca das novas capacidades russas tem o objectivo de desfazer essa ilusão de Washington.

Diz ele, no seu discurso: “ninguém queria falar connosco. Ninguém nos queria ouvir. Ouçam-nos agora.” Putin sublinhou que as armas nucleares russas estão de reserva para uma acção de retaliação e não para acção ofensiva, mas que qualquer ataque contra a Rússia ou aliados seus receberá resposta imediata “com todas as previsíveis consequências.”

Tendo deixado claro que a política ocidental de hegemonia e intimidação deixou de ter qualquer futuro, Putin acenou de novo com o ramo de oliveira: trabalhemos juntos para resolver os problemas do mundo.

Espero que a diplomacia russa tenha sucesso em pôr fim às crescentes tensões fomentadas por Washington. Entretanto, a diplomacia russa defronta-se com dois talvez intransponíveis obstáculos. Um é a necessidade que o sobredimensionado complexo militar/securitário dos EUA tem de ter um inimigo de vulto para justificar o seu orçamento anual de $1,000 milhares de milhões e o poder que ele comporta. O outro obstáculo é a ideologia neoconservadora da hegemonia mundial dos EUA.

O complexo militar/securitário está institucionalizado em todos os estados dos EUA. É um empregador e uma fonte de contribuições de grande peso para as campanhas políticas, o que torna quase impossível que um senador ou um deputado tome posição contra os seus interesses. Está ainda por aparecer nos círculos de política externa dos EUA um poder que contrabalance os dementados neoconservadores. A russofobia que os neoconservadores criaram atinge hoje os norte-americanos comuns. Estes dois obstáculos têm-se manifestado suficientemente fortes para impedir o presidente Trump de normalizar as relações com a Rússia.

Talvez no seu próximo discurso Putin devesse dirigir-se directamente aos europeus, e perguntar-lhes em que é que os interesses europeus são servidos ao serem viabilizadas as hostilidades de Washington em relação à Rússia. E se as coisas se complicarem, como é que qualquer país que aloje ABM dos EUA, armas nucleares dos EUA, e bases militares dos EUA espera escapar de ser destruído?

Sem a NATO e as bases avançadas que esta proporciona, Washington não tem condições para empurrar o mundo para a guerra. O facto essencial da questão é que a NATO é um obstáculo para a paz.

Fonte: https://www.paulcraigroberts.org/2018/03/01/putins-state-union/